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Jornalista MTP

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Afinal, quem é o jornalista MTP?

 

Depois de passar pelas áreas em que atua o jornalista MTP, nome dado por aqui ao jornalista que atua com prática multimídia, tecnologia e produto, é hora de entender quem é ele, afinal. A ideia de traçar um perfil com as características do novo profissional jornalista nasceu no desenrolar das entrevistas. A cada entrevista, parecia difícil explicar de que se tratava a série de reportagens, que começou como um apanhado de experiências de jornalistas em áreas com presença forte de tecnologia. É muito difícil falar sobre um tema quando ainda não há um nome para ele.

Luiza Baptista, editora executiva de estratégias digitais no O Globo e Extra, foi quem primeiro deixou isso claro. “Eu entendi o que você quis dizer sobre esse profissional. Eu acho que esse profissional ainda não tem um nome”, ela disse. “Eu acho que talvez seja realmente falar do futuro do jornalista que quer trabalhar com digital. Esse cara que está no meio do caminho, que trabalha com produto e trabalha com estratégia”, completou. Daí surgiu a ideia de buscar um nome para ele. O nome escolhido, com base nas experiências dos entrevistados e em leituras feitas para a pesquisa, foi jornalista MTP, um jornalista que tem conhecimentos de prática multimídia, tecnologia e produto.

A prática multimídia incorporada ao comportamento

 

A prática multimídia no jornalismo faz parte do comportamento — não só do jornalista, mas também do indivíduo — hoje. Ela engloba tanto o uso de formatos como áudio e vídeo, como a distribuição do conteúdo em diferentes plataformas. Ao conversar com as fontes, ainda que em áreas diferentes das ligadas diretamente à prática multimídia, como jornalismo de dados e checagem de fatos, a distribuição nas redes sociais também é mencionada. Assim como a análise dessa distribuição por meio de métricas

Paul Bradshaw, em seu guia para o jornalismo na era digital, descreve a entrega multiplataforma — aqui chamada de prática multimídia — como uma das características do jornalismo que surgia com a convergência (união do digital e impresso como um só produto). É uma prática que permanece até hoje. Isadora Ortiz de Camargo, jornalista e pesquisadora de estratégia de conteúdo e comunicação digital, explica que ela já é parte da forma de pensar do indivíduo. “O profissional precisa ter esse pensamento multimidiático para estar preparado para o dia a dia profissional. O jornalismo multimídia é um pensamento prático, que é então empregado no atuar profissionalmente”, diz. Essa constância da prática multimídia a torna uma das características do jornalista MTP.

 

 

A tecnologia empregada ao jornalismo

 

Essa série de reportagens parte de um mapeamento de áreas em que há forte presença de tecnologia no jornalismo. As áreas mapeadas foram: SEO técnico, experiência do usuário, jornalismo de dados, checagem de fatos e métricas. A palavra que mais aparece na fala dos entrevistados ao descrever essas áreas é tecnologia: 

Nuvem de Palavras 1 - Fio Condutor.png

Palavras mais usadas como resposta para a pergunta: “Qual o fim condutor que une essas áreas?”, sobre as áreas mapeadas aqui

Cindy Royal, pesquisadora de inovação de mídia na Universidade do Texas, descreve extensamente a aplicação da tecnologia por parte do jornalista. Em “Coding the Curriculum: Journalism Education for the Digital Age”, fala do ensino de linguagens de programação em cursos de graduação no jornalismo. Em “Teaching Web Design in Journalism and Mass Communications Programs: Integration, Judgment, and Perspective” fala mais especificamente do ensino de web design, aqui chamado de experiência do usuário. Já em “The Journalist as Programmer: A Case Study of The New York Times Interactive News Technology Department”, se refere ao termo jornalista programador, por meio de um estudo de caso do departamento de Tecnologia para Notícias Interativas do New York Times.

Há, por aqui, também diversos profissionais que se enquadram na categoria de jornalistas programadores. É o caso de Thaís Teles, jornalista e cientista de dados na Editora Globo, Guilherme Felitti, jornalista, cientista de dados e professor de pós graduação em jornalismo de dados, automação e data storytelling no Insper, Gabriel Zanlorenssi, editor de gráficos do Nexo, e tantos outros jornalistas entrevistados. E ainda que não saibam programar, o conhecimento de linguagens de programação é mencionado como ponto importante por outra parcela deles. A apropriação cada vez maior da tecnologia pelo jornalismo faz dela uma das características do jornalista MTP.

 

O produto jornalístico pensado por jornalistas

 

O conhecimento do jornalismo enquanto produto é outra das características do jornalista MTP. Em “Managing Digital Products in a Newsroom Context”, Cindy Royal define o que são produtos de mídia digital. "Nós costumávamos saber o que um produto de mídia era. Era o jornal impresso ou o noticiário televisivo. Agora é muito mais amplo", escreve. O estudo identifica uma gama desses produtos de mídia digital: "websites, aplicativos de celular, chatbots e conteúdos interativos de dados  — com complexidade crescente de forma que a se relacionam com distribuição e engajamento da audiência".

 

Nessa série de reportagens, o olhar para o jornalismo enquanto produto fica mais evidente nas áreas de redes sociais, SEO Técnico, experiência do usuário e métricas, em que há uso de técnicas que vão além do conteúdo e englobam o todo do jornalismo. Em seu artigo, Cindy descreve o pensamento aplicado à profissão com foco em um profissional específico: o gerente de produtos, "coração interdisciplinar de organizações jornalísticas". É um jornalista, com papel fundamental para o jornalismo. É essa, inclusive, a posição que ocupa Fabiano Candido, gerente de tecnologia, produto e UX na Editora Globo.

Além dele, muitos dos jornalistas entrevistados atuam também em outras empresas, em áreas de negócios. É o caso de Fábio Takahashi, gerente de dados de relações públicas na Loft, e Guilherme Felitti, que fundou o estúdio de data analytics Novelo. Flavia e Thaís também fazem parte dessa lista, já que a ciência de dados é uma área de negócios. Isso demonstra uma propensão desse tipo de profissional a buscar por conhecimentos mais amplos ligados a produto. A aplicação no jornalismo fica mais clara no caso de Fábio, quando perguntado sobre um possível desejo de voltar para o jornalismo para aplicar os conhecimentos adquiridos na área de negócios. “Acho que eu ainda não aprendi o suficiente para voltar. Mas sim, eu quero aprender e, de repente, se alguém quiser, voltar”, diz.

A escolha do nome: jornalista MTP

 

Ao descrever as características do profissional estudado e pedir por sugestões de nomes para representá-lo, os entrevistados deram respostas que foram reunidas em uma nuvem de palavras. A palavra que mais apareceu foi tecnologia, com 19 menções, seguida de produto, negócios e estratégia, que somadas aparecem 15 vezes, e de multimídia e multiplataforma, que somadas aparecem 11 vezes. Daí então, e com base nas observações já descritas, veio a ideia de pensar em um nome que reunisse todas essas características em uma sigla. Surgiu o jornalista MTP, profissional que tem conhecimentos em prática multimídia, tecnologia e produto. 

Nuvem de Palavras 2 - Nome da Profissão.png

Palavras mais usadas pelas fontes quando perguntadas sobre possíveis nomes para representar o profissional descrito

Luiza se encaixa no perfil do jornalista MTP. E também as diferentes fontes entrevistadas aqui. Não são poucas, para o tamanho da série de reportagens. Em uma primeira conversa, os próprios jornalistas não enxergavam as funções desempenhadas como parte de suas atribuições enquanto jornalistas. “Talvez você consiga dar um nome para esse profissional. E aí você vai falar: ‘ele é isso, isso e isso’. Vai terminar com um job description do que a gente faz”, disse Luiza. A ideia dessa série de reportagens é exatamente essa. Mostrar que as funções do jornalista hoje vão além do trabalho na redação, já que ele passa a se apropriar também de habilidades ligadas a tecnologia, prática multimídia e produto. É o que dá origem ao jornalista MTP.

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