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Jornalismo de Dados

Jornalismos de Dados: programar ou não programar?

Jornalismo de dados é um dos temas quentes da profissão. Com o aumento do poder dos computadores, capacidade de armazenamento e acesso a bancos de dados, os números se tornaram importantes fontes para o jornalismo, escreve Paul Bradshaw em seu guia para o jornalismo na era digital. Um dos marcos foi o Wikileaks, lançado em 2010, que proporcionou a produção de pautas com base em vazamentos de dados confidenciais do governo norteamericano.

 

Mas não existe apenas um “jornalismo de dados”. São diferentes graus de conhecimento em tecnologia que levam a produção de gráficos, reportagens e até tweets e publicações no Instagram com informações extraídas de bancos de dados. Esse tipo de conhecimento em tecnologia é uma das características e o que torna o jornalismo de dados uma das áreas de atuação do jornalista MTP

Fábio Takahashi é jornalista e atua como gerente de dados de relações públicas na Loft. Ele foi um dos fundadores do núcleo de dados da Folha, o DeltaFolha. Depois de um ano em uma fellowship na Universidade de Columbia, foi convidado para estruturar a nova área. “A Folha sempre trabalhou muito com os dados. É um veículo que tradicionalmente e historicamente preza muito pela informação quantitativa. Tem o Datafolha lá, mas eles queriam organizar uma editoria de jornalismo de dados que não existia ainda”, conta. Isso foi lá em 2017, quando a prática começou a ganhar força por aqui.

 

Deste então, diversas pautas foram produzidas, aliando o conhecimento de jornalismo ao da programação. “O primeiro conteúdo grande que a gente fez foi um especial sobre música”, diz Fábio. É a matéria Música Muito Popular Brasileira, que “analisou 134 milhões de plays no YouTube”, segundo conta. Apesar de ser o editor do projeto, ele diz que não sabia programar. O DeltaFolha era composto por uma equipe multidisciplinar, e esse conhecimento ficava por conta de outros profissionais. “Eu era o jornalista de dados que não programava. Eu ficava mais pensando, ajudando”, completa.

 

Apesar disso, ele afirma que compreender a lógica da programação era necessário para conversar com o restante da equipe. Ele explica o conhecimento que tinha da seguinte forma: “Eu não vou conseguir falar: ‘muda esse código nessa linha’, isso não consigo. Mas eu consigo pelo menos entender o que está acontecendo ali, quais são as premissas do que a pessoa fez”. Mais que isso, ele era capaz de conversar com os responsáveis sobre as possibilidades de criação. “Mesmo sem eu saber como faz, eu sei que dá para fazer. Esse era o nível de conhecimento que eu tinha”, diz.

 

Já Gabriel Zanlorenssi, editor de gráficos do Nexo, é programador em R. É uma exceção entre os entrevistados que programam, já que a maior parte programa em Python. Sobre a diferença, ele explica: “o Python tem um uso mais generalista, você tem usos fora da ciência de dados. O R acaba sendo um pouco mais especializado em ciência de dados, em estatística e visualização”. Além de pensar em pautas para o veículo em que trabalha, ele mantém uma presença ativa no Instagram, onde publica conteúdos gráficos. Além do conhecimento em tecnologia, o comportamento faz parte da prática multimídia no jornalismo, também característica do jornalista MTP.  

É o que faz também Guilherme Felitti, jornalista e professor de pós graduação em jornalismo de dados, automação e data storytelling no Insper. Há alguns anos, ele deixou as redações para fundar o estúdio de data analytics Novelo. Hoje, faz também análises da desinformação no YouTube, com um algoritmo criado por meio do Python. É no Twitter que faz as publicações com os informações que coleta. Guilherme conta que aprendeu a programar depois de ver o movimento surgido nos Estados Unidos em que jornalistas programavam e davam furos. “E aí começaram a surgir uma série de conteúdos bastante interessantes, que eu não entendia direito como eram feitos. Então eu comecei a estudar esse tipo de coisa e tentar replicar isso aqui. Esse foi o meu motor”, diz.

 

Além desses formatos, há também outros que fazem uso da ciência de dados para desenvolver o jornalismo de dados. É o caso do Radar aos Fatos, da Aos Fatos, que monitora desinformação nas redes. Segundo o Manual da iniciativa, foi desenvolvida “uma metodologia — em constante processo de aprimoramento — que alia conhecimentos da Linguística e da Comunicação à Ciência de Dados, implementada na linguagem de programação Python”. 

 

Por meio da criação de um algoritmo, o radar rastreia e classifica conteúdos com notas de 1 a 5, com base nos parâmetros estabelecidos sobre o grau de confiabilidade das informações. Atualmente, o Radar monitora conteúdos publicados em sites, no Twitter, no YouTube, no Facebook, no WhatsApp e no Instagram, e produz matérias que são publicadas no site da iniciativa e compartilhadas por meio de uma newsletter.

 

Quando perguntado sobre por que aprender a programar, Guilherme diz: “Quando você precisa tabular informações de maneira automática, ou quando você tem acesso a um banco de dados enorme e você quer encontrar um site para pauta que está enterrado ali, quem consegue abrir esse banco de dados enorme e analisar já está em vantagem”. Ele sugere o curso Python para Zumbis como forma de começar. Ainda que não se saiba em profundidade como executar essa atividade, pode ser útil ter alguma noção, como mostra Fábio. Em maior ou menor grau, o entendimento dessas linguagens faz parte das características do jornalista MTP.

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