Checagem de Fatos
Checagem de fatos: uma junção de política e tecnologia
Checagem de fatos é uma área nova no jornalismo. É certo que checar informações é parte primordial da profissão, e isso já é bem antigo, mas ela enquanto uma nova área data dos últimos 6 anos. José Antonio Lima, editor do Comprova, explica que a checagem de fatos surge como uma reação a máquina de desinformação usada em escala industrial na política, que passou a ser construída em eleições recentes.
“O que a gente tem como grande fenômeno político da década de 2010 para cá é uma ascensão da extrema direita que vem na esteira dessa crise do modelo neoliberal, que traz algumas características junto com essa com essa ascensão”, explica. Em 2016, foram as eleições norteamericanas de Trump, seguidas pelo Brexit, e aí aqui o mesmo fenômeno se repete em 2018.
“A mentira não é novidade, do mesmo modo que checar fatos não é uma novidade para o jornalismo. A mentira na política não é também novidade. O que temos é uma conjugação de fatores que envolve o fato de que as mentiras são utilizadas em escala industrial”, diz. Ou seja, como reação a mentira usada em larga escala como ferramenta política, o jornalismo passa a se mobilizar para combatê-la. Trazer à luz informações, mas em um modelo que responda a situação do momento. É assim que surge a checagem de fatos.
Aqui no Brasil, o Comprova, coalização de veículos para checagem de fatos, surge em 2018, mesmo momento em que a máquina de desinformação alimentava as eleições presidenciais. O projeto surgiu com o apoio da organização First Draf, que também apoiou iniciativas de checagem de fatos nos Estados Unidos e na França, em eleições anteriores. São esses alguns dos recursos necessários para o lançamento de iniciativas como essa. Mas além dos recursos humanos, existem também ferramentas tecnológicas que possibilitam esse tipo de trabalho.
Tecnologia na checagem de fatos
José explica que, quando inicia-se esse trabalho no jornalismo, os jornalistas se mobilizam com as ferramentas que tem. Mas, depois disso, outras são criadas, para potencializar as apurações. E elas têm papel fundamental para o desenvolvimento da atividade. “Do ponto de vista tecnológico, acho que há uma série de elementos que são centrais, porque há uma gama imensa de ferramentas que são utilizadas por quem atua nessa área”, diz.
O próprio Comprova tem uma pasta online, em que reúne diferentes ferramentas que podem ser usadas com esse fim, chamada caixa de ferramentas. Entre elas, estão algumas que podem ser usadas também em métricas, como CrowdTangle, que monitora publicações em redes sociais, e SimilarWeb, que monitora acessos a sites. Mas há também outras, com funções mais específicas. “É possível mostrar como e onde um vídeo foi gravado, utilizando uma série de ferramentas. Tem ferramentas de imagens, ferramentas que calculam a sombra em um determinado momento do dia. Uma infinidade de coisas”, diz. Um exemplo é a ferramenta Invid, que foi usada para encontrar a versão original de vídeo que alegava que aviões israelenses foram usados para apagar incêndios na Amazônia. A notícia foi classificada como falsa pelo Comprova.
Checagem feita pelo Comprova, com uso da ferramenta Invid
Além dessas tecnologias, há ainda outras mais complexas que fazem parte da checagem de fatos. É o caso da Fátima, inteligência artificial criada pela Aos Fatos para fazer o envio de checagens no WhatsApp, Telegram e Messenger. Segundo a apresentação da ferramenta, o nome Fátima “vem de “FactMa”, uma abreviação de ‘FactMachine’. Ela é a voz dos projetos de inteligência artificial e automatização de checagem do Aos Fatos. O seu objetivo é enviar informações verificadas e ajudar consumidores de notícias na internet a trafegar na rede de modo mais seguro”.
A inteligência artificial da Aos Fatos é uma tecnologia desenvolvida já com o fim de auxiliar na checagem de fatos, depois de a checagem ganhar forma por meio das tecnologias já disponíveis, como descrito por José. Entre as funções que desempenha, estão: conversar com o usuário, enviar checagens, receber sugestões de checagens e enviar boletins diários com notícias. É uma nova forma de pensar a tecnologia em função do jornalismo, o que faz da checagem de fatos também uma das áreas de atuação do jornalista MTP.
Sobre o panorama futuro de combate a desinformação, José menciona a importância de que os próprios leitores passem a fazer suas checagens. “Eu acho que o futuro continua sendo bastante problemático, porque ainda que várias iniciativas como o Comprova estejam atuando para conter a distribuição desses conteúdos, uma solução só surgiria quando o próprio consumidor de notícia tiver capacidade de desconfiar e fazer as investigações por ele mesmo”. Seria um passo além no processo, onde a educação midiática ganha espaço. Nesse cenário, o jornalista MTP, que sabe manipular as ferramentas tecnológicas para apurar informações, se torna cada vez mais importante.