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Multimídia

Áudio e vídeo: o que é a prática multimídia?

 

São mais de 30 milhões de ouvintes de podcasts no Brasil, segundo dados da Statista e IBOPE. Isso faz do país o terceiro maior consumidor do formato no mundo. Já o YouTube, maior plataforma de reprodução de vídeo da internet, é o site mais acessado por aqui, segundo dados da SemRush. O Brasil é um país que consome multimídia, sobretudo na internet. Mas antes da internet, vieram a TV e o rádio, tecnologias que transformaram o jornalismo à época.

Até aí feito só em papel, o jornalismo passou a ocupar o ambiente do rádio há cem anos no Brasil, e o da TV há 70. Hoje, consumimos áudio e vídeo online, mas é importante saber que esses formatos não são uma mera transposição dos primeiros para a internet. Em seu guia para o jornalismo no ambiente digital, Paul Bradshaw explica que há diferenças cruciais entre eles, que devem ser levadas em consideração na hora de produzir conteúdo.

 

Podcast não é rádio

 

No caso do áudio, há duas diferenças principais para se ter em mente. A primeira está nos aparelhos usados para consumo: enquanto o rádio é muitas vezes ouvido como plano de fundo durante outras atividades, como cozinhar ou trabalhar, o áudio online — podcast — é uma experiência que exige um grau maior de dedicação, feita enquanto se dirige, viaja, relaxa ou apenas escuta o conteúdo, escreve Bradshaw.

A segunda diferença está na produção: o rádio exige uma duração específica de tempo, enquanto áudio online pode ter qualquer tamanho. Isso permite uma maior liberdade no formato. Mais de 40% dos brasileiros haviam ouvido podcasts entre março de 2021 e março de 2022, e os mais ouvidos foram: Horóscopo Hoje, Mano a Mano, Flow, Primocast e Café da Manhã, nessa ordem, também segunda a Statista e IBOPE. É um formato que tem crescido cada vez mais por aqui.

 

Vídeo online não é TV

 

“Entender porque algumas técnicas de TV não funcionam online implica entender porque essas técnicas foram criadas para começo de conversa”, escreve Bradhsaw. A televisão não tem escolha a não ser usar o vídeo, então ela precisa inventar diversas maneiras de “tornar a notícia visual”, desde o “apresentador detrás da mesa” até repórteres de pé “na cena”. “Esses truques não são necessários online: se a sua história não é visual, não use video”, complementa o autor.

 

Iolanda Paz é jornalista e atualmente trabalha com vídeo no G1. Antes, trabalhou com texto e vídeo no Estadão. Por lá, ela explica que o processo de produção audiovisual começou como uma forma de acompanhar os textos que iam para o impresso — "enquanto a TV ia junto e acompanhava”. Só depois é que começou a fazer o processo inverso. Aí, o raciocínio era o mesmo descrito por Bradshaw: “Eu comecei a pensar primeiros nos vídeos que queria fazer, em que histórias era legal narrar visualmente. Depois, passei a entregar conteúdos em texto com um vídeo em destaque”, diz.

 

Prática multimídia como comportamento 

 

As mídias de áudio e vídeo, quando surgiram, apareceram como uma nova tecnologia que rompeu com o funcionamento tradicional do jornalismo. Repórteres que antes precisavam apenas escrever, se viram diante de demandas que exigiam novas habilidades, como edição e captação, para as quais não necessariamente estavam preparados — e que cresceram mais e mais com o passar do tempo.

Hoje, pensar nesses formatos como tecnologia parece estranho. É que estamos tão acostumados a conviver com eles em nossos celulares e nas redes, que já não os enxergamos mais dessa forma. Isadora Ortiz de Camargo, jornalista e pesquisadora de comunicação digital na USP, explica que essa virada acontece a partir de 2010, quando os dispositivos móveis começam a ganhar força por aqui. Desde então, a prática multimídia, que se refere tanto aos formatos de áudio e vídeo quanto à distribuição em diferentes plataformas, se torna muito mais uma forma de comportamento que uma tecnologia.

Iolanda — mesmo sem ter ouvido sobre a visão da pesquisadora — relata que vive essa experiência na prática. Ela diz: “É uma tecnologia, no fundo, mas acho que é muito mais sobre uma forma de fazer jornalismo. Sim, eu uso tecnologias: uso câmeras, o computador, programas de edição, mas para mim é algo tão incorporado no meu trabalho — e acho que é algo que cada vez mais estamos absorvendo —, que vejo muito mais como uma forma de fazer jornalismo”. E complementa: “É uma forma de fazer multimídia, porque a gente também está na internet”.

Segundo Isadora, a prática multimídia — que alia tanto os formatos de áudio e vídeo, quanto a distribuição em diferentes plataformas na internet — é uma das habilidades do atual perfil de profissional. Ela faz parte de seu comportamento. “O jornalista, antes de ser jornalista, já tem esse comportamento de pensar a rede como um lugar de publicação, um lugar de explorar visibilidade, já tem ali o celular como um aparato que pode gerar um vídeo digital, áudio, podcast”, diz. E é essa, a prática multimídia, uma das características do jornalista MTP, que tem conhecimentos de multimídia, tecnologia e produto, e estamos estudando por aqui.

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